Lucila Meirelles comemora os primeiros resultados de um programa de certificação que chegou à Fazenda Bom Destino, em Batatais-SP, em 2023. A propriedade abriga um haras, com criação de cavalos Mangalarga Marchador, e está experimentando a produção de abacates, mas a história da família foi cultivada junto com a cana-de-açúcar.
Para entender como a cultura canavieira evoluiu na propriedade da família, precisamos voltar à década de 1940, quando o avô paterno de Lucila saiu de Minas Gerais para comprar terras no estado de São Paulo. Por muito tempo, ele plantou café. Depois, houve um período de transição com soja e milho até o campo ser coberto pelos canaviais.
O negócio passou de geração em geração. Hoje, está nas mãos de Lucila e da irmã Luciana. Cooperação que colocou a produção na rota do ESG – Ambiental, Social e Governança, na tradução para o português – com a adoção de práticas que buscam unir a gestão eficiente com respeito ao meio ambiente e atenção às necessidades da sociedade.
As transformações na fazenda se intensificaram durante a pandemia de Covid-19. Lucila, que mora em São Paulo, decidiu levar as filhas para Batatais por considerar a propriedade mais segura para enfrentar a crise sanitária. Passou quatro meses, dia após dia, em contato direto com o trabalho do pai, atualmente com 79 anos.
Foi a partir daí que a fazenda ganhou não apenas reforços na governança, mas processos mais sustentáveis. Em 2023, entrou para o programa da Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo (Canaoeste) e foi certificada pela Bonsucro, organização internacional com a qual a Canaoeste tem parceria.

Grupo internacional de governança multissetorial, sem fins lucrativos, a Bonsucro foi estabelecida em 2008 para promover a cana-de-açúcar sustentável. O objetivo declarado é reduzir “os impactos ambientais e sociais da produção de cana-de-açúcar, reconhecendo a necessidade de viabilidade econômica”.
O programa oferece assistência técnica aos produtores e estabelece uma série de diretrizes que devem ser adotadas nas propriedades, como preservação da água e de áreas verdes, a garantia de bem-estar dos funcionários, entre outras.
“Entendemos que a certificação está alinhada à nossa cultura familiar, de promoção de um fluxo contínuo de melhorias e com os quatro pilares que sustentam o nosso trabalho: transparência, verdade, cuidado e qualidade. Por isso, aderimos a essa iniciativa e estamos muito satisfeitas com os resultados”, conta Lucila.
A certificação possibilita que a fazenda acompanhe os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos das Organização das Nações Unidas (ONU), e a Agenda 2023 – plano global de medidas a serem implantadas até 2030 em todos os países para favorecer uma vida melhor a todos os povos.
“Nas conversas com a Canaoeste, vimos a necessidade de deixar nossos processos, que já eram bem planejados e estruturados, ainda mais sedimentados. Diante das questões que o mundo atravessa hoje e da relação de trocas que precisamos estabelecer com ele, percebemos que o programa de certificação faz todo o sentido”, afirma Lucila.
Além da proximidade com a Canaoeste, a fazenda é cooperada da Sicoob Cocred, desde 1995. “Toda a nossa movimentação financeira é feita na Cocred. Cobranças, custeio, aplicações financeiras, financiamento do BNDES. Tudo o que é necessário no dia a dia da propriedade”, diz Lucila.

Agregar valor
O gestor executivo da Canaoeste, Almir Torcato, explica que o programa de certificação é resultado de um trabalho interno de gestão e sustentabilidade que a Associação busca desenvolver junto aos seus membros.
A proposta surgiu em 2021, quando foi criado na Canaoeste o “Programa de Boas Práticas e Certificações”, com o objetivo de inserir os produtores no universo das certificações e assegurar práticas sustentáveis que abram portas nos mercados nacional e internacional.
Segundo Torcato, 12 produtores rurais foram contemplados na primeira etapa. O grupo responde por 26 propriedades, que somam 17 mil hectares, onde é colhido 1 milhão de toneladas de cana anualmente, cerca de 10% do total entregue pela Canaoeste às usinas.
Os critérios para a escolha dos primeiros participantes foram o compromisso pré-existente com sustentabilidade nas operações e com adoção de boas práticas, e a disposição em investir na certificação, assumindo as exigências das auditorias para a obtenção do selo.
“Além da gestão ambiental, com a implantação de medidas para proteger o solo, a água e a biodiversidade, é preciso responsabilidade social: garantir boas condições de trabalho e respeito aos direitos dos trabalhadores, buscando sempre a transparência”, afirma.
Torcato explica que a certificação da Bonsucro, constantemente aprimorada, foi inserida em um programa de amplitude ainda maior da Canaoeste: o Semeia, sigla formada pelas iniciais das palavras que remetem a seus principais aspectos: Sustentabilidade, Economia, Meio Ambiente, Ecoeficiência e Inteligência Agronômica.
Ainda segundo o gestor da Canaoeste, as práticas sustentáveis permitem valorizar a produção, por meio de melhores negociações de contratos de entrega de cana, principalmente para usinas que exportam ou pretendem exportar subprodutos para a Europa, mercado conhecido pelas altas exigências de rastreabilidade.
“Tudo isso representa o nosso compromisso em semear as bases para um futuro mais sustentável. Prestes a completar 80 anos, a Canaoeste está sempre trabalhando para modernizar seus processos, construir uma associação que esteja preparada para os desafios e buscar o melhor para os nossos associados”, conclui.

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