Em um laboratório do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), no campus Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (USP), em Piracicaba-SP, Diego Mauricio Riaño-Pachón trabalha em um projeto que visa decifrar o genoma completo de uma variedade de cana-de-açúcar.
A pesquisa, que deve fomentar uma produção ainda mais econômica e ambientalmente sustentável, é reflexo das sucessivas transformações que o setor canavieiro vivencia no Brasil e anuncia um futuro alinhado às principais demandas decorrentes das mudanças climáticas, da competitividade do mercado e da busca por qualidade de vida.
Desde quando a Sicoob Cocred foi criada, em 27 de julho de 1969, a cadeia produtiva da cana, segmento em torno do qual a cooperativa surgiu, passou por mudanças bastante simbólicas: a área cultivada e a produtividade aumentaram, o setor agregou novas tecnologias, como máquinas para plantio e colheita, além de diversificar suas atividades.
Um dos movimentos mais significativos foi a implementação do Proálcool, na década de 1970. O programa governamental estimulou a produção de álcool combustível para reduzir a dependência do país por gasolina. Depois, a partir da década dos 1990, a mecanização substituiu, gradativamente, a queima e a colheita manual.
A partir de 2026, ano estimado para o que o projeto desenvolvido no Cena esteja concluído, o sequenciamento genômico da cana poderá marcar um novo momento, no qual, segundo o pesquisador, será possível identificar e selecionar, de forma rápida e precisa, quais genes estão associados ao crescimento da cana, à alta produção de açúcar, à resistência a pragas e doenças, à tolerância a estresses ambientais, à eficiência de uso de nutrientes, entre outros, facilitando a criação de variedades mais robustas e produtivas.
“Além disso, a disponibilização pública desses dados e ferramentas para explorá-los permitirá que diferentes instituições e empresas do setor utilizem essas informações em suas próprias pesquisas e inovações, promovendo um ambiente colaborativo e acelerando o avanço tecnológico na cana-de-açúcar”, afirma o pesquisador.
Ainda de acordo com Riaño-Pachón, o tempo para que uma nova variedade de cana seja colocada no mercado, que varia hoje entre dez e 15 anos, pode cair, a partir do estudo, para cerca de cinco anos.

Crescimento
Aliás, produzir mais em uma mesma área é um dos principais desafios do segmento canavieiro na busca pela sustentabilidade. Foi agregando conhecimentos de pesquisa, novas práticas e tecnologias que o país se tornou o maior produtor mundial da matéria-prima, e também de açúcar e etanol de cana.
Na safra 2023/24, que terminou em março, o Brasil colheu 713,2 milhões de toneladas de cana, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) – um recorde. O estado de São Paulo, onde foi instalado o primeiro engenho, em 1534, na Ilha de São Vicente – atual município de Santos-SP – contribuiu com a maior parte: 54% desse volume.
A expansão da cana nas terras paulistas deu um salto a partir da década de 1950. Naquela época, o plantio aumentou seis vezes. Nos anos seguintes, continuou crescendo – o que estimularia o surgimento da Cocred, no final da década de 1960. Depois, o Proálcool traria uma nova grande expansão, inclusive com saída para outras regiões do país.
Diversificação
A Usina Pitangueiras nasceu justamente nesse contexto. Foi inaugurada em 1º de maio de 1975, como fábrica de aguardente, a partir de uma história familiar de dedicação ao setor que teve origem na década de 1940, quando Possidônio de Andrade montou um engenho em Pontal-SP. Dois filhos dele, Luizinho e Rafael, decidiram vender suas partes das terras e se mudaram para Pitangueiras, onde cada um também montou um engenho.
Inicialmente, o de Rafael se chamava “São Rafael”, mas precisou mudar por causa de uma outra empresa com esse nome. Virou, então, Indústria de Aguardente Pitangueiras, voltada, exclusivamente, à cachaça até 1985, quando começou a produzir etanol. Um processo de diversificação que continuaria decorrer dos anos 2000, quando a usina entrou no mercado de açúcar e de energia elétrica.
Na safra passada, a unidade superou 3 milhões de toneladas de cana processadas. Para a atual temporada, deve haver uma leve queda, mas, para 2025/26, a projeção é de novo aumento, podendo bater a marca de 3,5 milhões. Cerca de 70% do volume está sendo direcionado ao açúcar, por causa dos bons preços no mercado internacional.
O presidente da usina, João Henrique de Andrade, acredita, no entanto, que a crescente demanda mundial por energia limpa fará o etanol trazer “muitas alegrias para o país”. “Tem muita gente olhando para isso. O etanol ainda vai ser muito valorizado porque não tem como o mundo girar sem o Brasil”, diz.
Para aproveitar as oportunidades, João Henrique conta com a parceria da Sicoob Cocred – a usina é cooperada desde 1996. “A cooperativa sempre esteve ao nosso lado, possibilitando fazer boas operações de investimento, capital de giro, entre outros”, afirma o empresário. “A gente não consegue enxergar a [Usina] Pitangueiras sem a Cocred”.

Mecanização e novas tecnologias
Quem também recorre, com frequência, à Cocred é o produtor rural Otacílio José Meloni, que tem áreas de cana distribuídas em Sertãozinho, Barrinha e Dumont. Cooperado há 27 anos, Meloni lembra que, em 2021, perdeu mais da metade da área por causa de uma geada severa, em junho, e de um incêndio, três meses depois. No ano seguinte, colheu pouco e precisou da cooperativa para se restabelecer.
“Se não fosse a Cocred, teria sido ainda mais difícil. A relação é de respeito e confiança. Na Cocred, mais do que alguém que tem uma conta aberta, você é reconhecido como uma pessoa que tem história e que tem família”, afirma.
A trajetória na agricultura começou com o avô, na década de 1920, plantava milho e algodão. Usava um arado manual para rasgar a terra. Depois, veio o pai, também Otacílio, até chegar a Otacílio José e um dos irmãos, Marco Aurélio, que produzem cana juntos. “Cheguei a trabalhar em algumas empresas, mas, desde 1991, é só roça”, diz.
A decisão de se dedicar exclusivamente ao campo, onde nasceu, coincidiu com uma época em que as máquinas começaram a entrar nas lavouras – o que, na visão dele, representou uma mudança de mentalidade em relação aos cuidados com o meio ambiente. Mas que também continua como um desafio.
“A tecnologia não para de evoluir e nós precisamos acompanhar. Por isso, é tão importante ter a parceria da Cocred, nos apoiando em todos os momentos, principalmente naqueles em que mais precisamos”, explica.

Guilherme Zamproni, de família canavieira tradicional na região de Sertãozinho, pensa parecido sobre os benefícios da tecnologia. As áreas plantadas, que já recebem aplicação de herbicidas com drone, estão em Guatapará-SP, onde possui propriedade há 40 anos.
Colônia japonesa, a cidade investia, na época, na criação de bicho-da-seda. Por causa de restrições a outras culturas, Zamproni, que é cooperado da Cocred desde 1983, começou a cultivar a cana ali há 15 anos, já com a lavoura mecanizada.
Uma realidade bem diferente de quando o avô entregava a matéria-prima de carroça para o Engenho Central, construído por Francisco Schmidt em 1905, entre Sertãozinho e Pontal, para exportar açúcar, ou de quando o pai fazia este serviço para uma antiga usina, a bordo de um pequeno caminhão.
“Temos uma atividade bem estruturada, com todo o maquinário necessário. E a parceria com a Cocred é fundamental para que possamos caminhar juntos com as tendências que estão transformando o cenário da cana no país”, declara.
Zamproni tem razão. Com o suporte de instituições como o Cena e de cooperativas financeiras como a Cocred, o Brasil se posiciona para manter sua liderança global na produção de açúcar e etanol. Essas parcerias estratégicas não apenas fortalecem a economia local, mas garantem que os produtores tenham os recursos necessários para enfrentar desafios e aproveitar oportunidades emergentes.
E à medida que o setor canavieiro avança, a inovação e a sustentabilidade continuam a ser pilares essenciais. O sequenciamento genômico da cana, uma empreitada que promete revolucionar a produção, é apenas o começo de um futuro repleto de possibilidades.
Por tudo isso é possível dizer que a história da cana no Brasil é uma narrativa de evolução constante, marcada por inovação, cooperação e um compromisso inabalável com o progresso sustentável. À medida que novos desenvolvimentos científicos e tecnológicos surgem, o setor demonstra que está preparado para não atender às demandas atuais e moldar um futuro mais sustentável e próspero para todos os envolvidos.

Clique aqui e leia mais sobre cooperativismo e a Sicoob Cocred na Edição 44 da Revista Cocred Mais.
E para ficar sempre atualizado sobre as novidades, siga a Sicoob Cocred no Instagram, Facebook e LinkedIn.