Desempenho do setor comercial impulsiona alta do PIB brasileiro em 2024

Desempenho do setor comercial impulsiona alta do PIB brasileiro em 2024

Excelente, devastador, surpreendente, complicado, positivo, adverso… Apesar da dualidade, esses são alguns adjetivos usados por cooperados da Sicoob Cocred, entrevistados pela reportagem da Cocred Mais, para descrever 2024. Um ano turbulento, marcado por disputas políticas, conflitos armados, desastres naturais e incertezas econômicas, mas que termina deixando uma expectativa positiva.

“Desafiador” e “positivo” foram, paradoxalmente, as palavras mais recorrentes nas bocas dos entrevistados. Afinal, enquanto muitos deles enfrentaram dilemas, especialmente no campo, outros estão comemorando a evolução dos negócios, com ênfase no setor de serviços e na indústria.

Realmente, 2024 foi marcado por uma série de desafios, reflexo não apenas dos atuais cenários político e econômico brasileiro, mas da conjuntura internacional. Enquanto o mundo ainda lida com efeitos de crises anteriores, como a pandemia de Covid-19 e a guerra entre Rússia e Ucrânia, o Brasil apresentou uma recuperação tímida, mas sólida, em vários setores.

Para 2025, as perspectivas de crescimento são alimentadas tanto pela recuperação de setores mais afetados este ano, como o agronegócio, quanto pelo contínuo avanço dos serviços e da indústria, que puxaram os bons indicadores econômicos em 2024.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB) do país no terceiro trimestre do ano cresceu 4%, em comparação com o mesmo período de 2023, totalizando R$ 3 trilhões.

Os números fizeram o Brasil alcançar o quarto melhor resultado entre os países do G20, superado apenas por Índia (5,4%), Indonésia (5%) e China (4,6%). Positivismo sob análise externa e também interna. A expectativa revisada do Ministério da Fazenda aponta para um crescimento do PIB acima de 3,3%, no acumulado de 2024, segundo projeção divulgada no Boletim Macrofiscal em novembro.

A recuperação do país é mais notável se comparada ao desempenho de outras economias emergentes. Países como Índia e México apresentaram crescimento, mas não conseguiram alcançar o mesmo avanço brasileiro, principalmente devido aos desafios internos e aos efeitos das crises globais. O Brasil, por outro lado, reverteu a trajetória de estagnação econômica que marcou os primeiros anos da década.

Entre os fatores que influenciaram os resultados está o aumento do consumo das famílias (5,5%), que impulsionou o crescimento no setor de serviços (4,1%) – com destaque para atividades imobiliárias – e na indústria (3,6%) – com destaque para construção, legitimada tanto pela alta da ocupação como da produção de insumos típicos dessa atividade. Vale destacar que esses dados fazem uma comparação entre o desempenho do país no terceiro trimestre de 2024 com o mesmo período de 2023, sem ajuste sazonal.

Para o economista Haroldo Torres, doutor em economia aplicada pela Universidade de São Paulo (USP) e sócio-diretor do Pecege Consultoria e Projetos, os índices são reflexos das medidas políticas e econômicas implementadas ao longo dos últimos anos. “Passamos por reformas estruturantes e microeconômicas e, agora, colhemos os benefícios dessas alterações de regulamentação. Esse crescimento é puxado por uma expressiva recuperação da produção industrial e dos serviços, que são os dois setores que mais estimularam a economia em 2024”, explica.

Haroldo Torres, economista

Reflexos no comércio

Os números impactam diretamente as histórias de empreendedores que, apesar das dificuldades, colheram os frutos da boa fase econômica e se mantiveram resilientes, além de otimistas em relação ao futuro. Em Pitangueiras (SP), Ronaldo Maffeis, comerciante há 34 anos no ramo de materiais de construção civil, analisa 2024 com satisfação.

A loja que leva o seu nome tem se destacado no mercado local com um portfólio diversificado de produtos, que atrai clientes de toda a região. “Estamos indo muito bem, não vi dificuldades. Pelo menos não no ramo de construção civil”, afirma o comerciante, destacando a fidelização dos clientes e a constante atualização dos produtos como pontos chave para o sucesso nos negócios. “Temos um balcão sempre cheio, o que reflete diretamente o bom momento que estamos vivendo”, complementa.

Cooperado da Cocred desde 2009, Maffeis se orgulha de ter transformado a pequena loja, inaugurada no início da década de 1990, em um estabelecimento reconhecido na cidade, que gera mais de 25 empregos diretos e contribui com a economia local. O comerciante atribui parte do sucesso a princípios que aprendeu com a família e o cooperativismo, como ética, transparência e responsabilidade social.

Otimista, projeta um futuro ainda mais promissor para o comércio, com a expansão da oferta de produtos e serviços. “Com a nossa tradição e a confiança dos nossos clientes, continuaremos expandindo cada dia mais e assim será também em 2025”, conclui.

No mesmo quadrilátero central de Pitangueiras, a comerciante Patrícia Aparecida Sarni Cussioli, cooperada da Cocred desde 2018, vive um momento de superação na loja de roupas femininas, masculinas e infantis que administra há 32 anos – mas que foi inaugurada pela família há mais de 45.

“Foi um ano custoso, matando um leão por dia, mas a gente não desanimou e venceu cada obstáculo”, conta a empresária, destacando que o atendimento personalizado e a venda diretamente nas casas dos clientes foram estratégias importantes para driblar os desafios e encerrar 2024 com saldo positivo.

“Sou completamente fascinada pelo que faço. Nasci no comércio e sei que para se manter nele é preciso estar em movimento, buscando sempre as novidades e levando até os clientes. É isso que faz da loja uma referência na cidade e na região”, diz.

Patrícia Cussioli, cooperada da Cocred desde 2018

Patrícia, que aos 12 anos de idade já apoiava a mãe com as vendas na loja e, justamente por todo esse tempo de experiência conhece bem o mercado e o setor em que atua, vislumbra um 2025 mais positivo não apenas para o comércio, mas para a economia brasileira como um todo. Os planos da família incluem uma reforma na loja e a ampliação do quadro de colaboradores. “Me sinto realizada. Meus funcionários brincam que, se eu pudesse, dormiria na loja”.

Em Sertãozinho (SP), o comerciante Paulo Roberto Scaranelo, proprietário do tradicional Açougue e Empório Boi Gordo, também celebra os resultados obtidos em 2024 e prevê uma situação ainda melhor em 2025. “É motivo de orgulho ter o reconhecimento tanto dos clientes como dos funcionários. É uma satisfação que faz com que a gente invista ainda mais no negócio, para garantir sempre mais qualidade”, afirma.

Cooperado da Cocred desde 2016, Scaranelo destaca o atendimento próximo como característica essencial para conquistar e fidelizar os clientes, e, consequentemente, obter sucesso nos negócios diante dos inúmeros desafios. Atualmente, o Boi Gordo mantém duas lojas e cerca de 20 funcionários na cidade, além de diversos parceiros de revenda.

“A gente sempre oferece treinamento aos funcionários, para atender os clientes da melhor forma possível, e cuida das compras de mercadorias buscando matérias-primas de primeira qualidade em todos os sentidos. Investindo em inovação também, atentos às novidades do mercado”, completa.

Paulo Scaranelo e o filho João Pedro Scaranelo, responsáveis pelo açougue Boi Gordo

Futuro promissor

Termômetro do aquecimento econômico, o setor de serviços – que mais contribuiu para o crescimento do PIB nos três primeiros trimestres do ano – também tem um papel fundamental na geração de empregos em todo o país. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o segmento foi o que mais abriu postos de trabalho entre janeiro e outubro: geração de 1,118 milhão de vagas com carteira assinada em dez meses.

Com a ocupação batendo recorde no país, o percentual de desempregados caiu para 6,2% em outubro, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua). Essa é a menor taxa já registrada na série histórica do levantamento, realizado desde 2012.

Até então, a menor taxa registrada era de 6,3%, em dezembro de 2013. Diante disso, é possível afirmar que a geração de empregos, especialmente no setor de serviços e na indústria, tem contribuído para a estabilidade econômica e, consequentemente, para o crescimento do PIB. “O que estamos vendo é uma recuperação da demanda de serviços associada ao aumento de empregos. Com um dos menores níveis de desemprego, a economia fica aquecida e impulsiona o consumo”, analisa Haroldo Torres.

O futuro parece promissor também para o agronegócio, que sofreu com queimadas criminosas e condições climáticas adversas: temperaturas elevadas, enchentes em algumas regiões do país e precipitações abaixo da média em outros estados. O impacto foi tão significativo que o PIB do setor – tradicionalmente o que mais contribui com a economia brasileira – recuou 0,8% no terceiro trimestre do ano, em comparação ao mesmo período de 2023, segundo dados do IBGE.

O Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) divulgado em novembro mostrou que alguns produtos, cujas safras são significativas no período de julho a setembro, como cana-de-açúcar (-1,2%), milho (-11,9%) e laranja (-14,9%), apresentaram queda na estimativa de produção anual e perda de produtividade.

“Por ser um setor que poderia ter somado muito mais à economia, a gente espera que não se repita esse cenário climático tão adverso e, consequentemente, o resultado seja positivo. Portanto, a gente já imagina uma recuperação da produção para 2025”, analisa o economista, destacando que novas tecnologias podem contribuir também para mitigar os danos causados pelos fenômenos naturais e meteorológicos no campo.

Investimento seguro

Mas analisar os fatores que impactaram o cenário econômico brasileiro em 2024 pressupõe ainda certa ênfase na recuperação da imagem do país lá fora. Agências de classificação de risco voltaram a posicionar o Brasil como um “destino seguro” para investir. Considerada uma das principais agências mundiais de rating, a Moody’s, por exemplo, elevou a nota de crédito soberano do Brasil de Ba2 para Ba1.

Isso significa que o país está a um passo do chamado “grau de investimento”, a nota de corte para ser considerado porto de investimentos seguros. No relatório divulgado, a Moody’s justificou essa decisão com base no crescimento do PIB e nas recentes reformas econômicas, como a tributária, que deve melhorar o ambiente de negócios brasileiro, de modo a manter o crescimento forte no longo prazo, como explicou o economista do Pecege.

“Para as pessoas entenderem essa avaliação, costumo comparar com o nosso score de crédito, enquanto pessoa física. Sempre que o nosso score melhora, significa que estamos no positivo. Então, temos mais chances de conseguir taxas de juros menores e liberações de crédito. O mesmo acontece com o país, que passa a ser visto como um lugar mais confiável para investidores”, afirma.

Torres aponta, por outro lado, que o Brasil ainda precisa atingir níveis econômicos mais sólidos e estáveis para obter uma avaliação positiva permanente e se tornar, de fato, um local seguro e confiável para os investidores – e os brasileiros. Um caminho que já está sendo trilhado, mesmo que a passos lentos. Exemplo disso é que a taxa de investimento no terceiro trimestre de 2024 foi de 17,6%, o que representa um crescimento em relação àquela observada no mesmo período do ano anterior (16,4%), segundo dados do IBGE.

“Nossa maior dor passa pelo equilíbrio fiscal. Esse equilíbrio é a necessidade de o governo cortar na própria pele, ou seja, reduzir os seus gastos naquilo que é ineficiente. Isso porque, um setor que gasta muito, acaba tendo mais risco de se endividar. Essa é a provocação que pode nos levar a esse ponto de segurança. A lógica é: quando gasta mais, você vai se endividar; e toda vez que você se endivida, exige uma taxa de juros mais alta. Justamente o contrário do que a gente busca para aumentar o nosso nível de avaliação do crédito. Com uma política fiscal robusta, ancorada em uma política econômica consistente, o Brasil consegue recuperar o grau de investimento nos próximos anos e se colocar, de fato, como uma economia emergente extremamente atrativa para investimentos de longo prazo”, projeta.

Gostou do conteúdo? Clique aqui e leia mais sobre o cenário econômico brasileiro na Edição 45 da Revista Cocred Mais.

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