Em todo mundo, cada vez mais gente tem descoberto os benefícios do cooperativismo. Um modelo socioeconômico comprometido com um futuro melhor, mais justo, solidário e colaborativo. É por isso que, só no último ano, o segmento cresceu cerca de 10% no Brasil. Se fosse um estado brasileiro, teria a quarta maior economia do país, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Juntas, as cooperativas brasileiras produziram, no mesmo período, R$ 692 bilhões em receitas, um crescimento de 5,5% na comparação com o resultado de 2022. O volume equivale a 6,35% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, segundo dados do mais recente Anuário do Cooperativismo Brasileiro.
O mesmo documento aponta que o Brasil já tem 23,4 milhões de cooperados, o que equivale a 11,5% da população, com base no último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número é 14,5% superior ao registrado no levantamento anterior, quando o país tinha 20,5 milhões de cooperados.
Um dos brasileiros que aderiu ao movimento é a empresária e CEO do Grupo Fraellio, Mariela Fracalozzi Rios, de 32 anos, cooperada da Sicoob Cocred há um ano. “É uma instituição que traz acolhimento, atendimento diferenciado, de olhar nos olhos e entender as necessidades”, afirma.

Segundo Mariela, que é responsável pelo projeto de expansão do grupo rumo à liderança do mercado nacional de resistências elétricas, acendedores e termostatos, a empresa da família sempre compartilhou os valores do cooperativismo: movimento centrado em pessoas e comprometido em promover a qualidade de vida dos cooperados e da população. Nesse sentido, a decisão de se associar à Cocred não foi difícil.
“A cultura organizacional do grupo é muito forte e está alicerçada em princípios como ética, respeito, gratidão e saúde mental. Nosso trabalho sempre parte de uma reflexão sobre qual é a nossa missão no mundo e isso se reflete em todas as ações e parcerias”, conclui.
Os dados do Anuário do Cooperativismo Brasileiro apontam ainda que nos municípios onde esse modelo está presente há um incremento na arrecadação de impostos, na geração de empregos, na educação e na promoção social. Só em 2023, as cooperativas brasileiras empregaram 550,6 mil pessoas e pagaram mais de R$ 31 bilhões em salários e encargos.
Além disso, cidades que contavam com cooperativas apresentaram um incremento médio de R$ 5,1 mil no PIB por habitante. Uma realidade conhecida, na prática, pelo empresário Celso Cardoso de Souza, proprietário de três lanchonetes em Olímpia (SP). Cooperado da Cocred desde 2022, Souza encontrou no cooperativismo a parceria que buscava para reerguer os negócios, duramente afetados pela Covid-19.
“A Cocred me deu um voto de confiança, quando os bancos negaram. Consegui reerguer minha empresa, pagar os funcionários e os fornecedores. A cooperativa confiou no meu faturamento, na minha capacidade de quitar o crédito e buscou entender, realmente, o que eu precisava. Naquele momento, acredito que nem faziam ideia do quanto aquele limite disponibilizado fez a diferença na minha vida. De lá para cá, as minhas empresas só cresceram”, celebra o empresário.

Proximidade
O atendimento próximo e humanizado é apenas a porta de entrada de muitos novos cooperados, que se surpreendem ao descobrir as raízes sólidas do cooperativismo, pautadas por valores como democracia, justiça social, igualdade, união e colaboração. Uma vez que não visam ao lucro, mas a evolução dos cooperados e das comunidades onde vivem, as cooperativas são, em última instância, agentes de transformação social e econômica. “Essa é a essência do cooperativismo: a união das pessoas e a colaboração mútua.
Nesse sentido, não enxergamos os cooperados como clientes. Mesmo porque, eles fazem parte, são donos do negócio. Nós enxergamos as histórias, as necessidades e o potencial de cada um”, afirma Antônio Cláudio Rodrigues, diretor Geral da Cocred. Do campo às cidades, as cooperativas estão presentes em todos os setores da economia, oferecendo soluções inovadoras e sustentáveis por meio da cooperação.
A capacidade que essas instituições têm de se adaptar a diferentes contextos e realidades, e atender às necessidades específicas dos cooperados, faz com que seja um modelo de negócio versátil e resiliente, que cresce a cada ano. Rodrigues destaca que o cooperativismo de crédito, do qual a Cocred faz parte, tem puxado essa ascensão no Brasil. Em termos de número de cooperados, o segmento foi o que mais cresceu entre 2022 e 2023, de acordo com o Anuário do Cooperativismo Brasileiro: evolução de 15,7%.
“Nosso propósito é conectar pessoas para promover justiça financeira e prosperidade. Somos a terceira maior cooperativa do país e isso é um reflexo da nossa visão de sempre proporcionar a melhor experiência aos nossos cooperados. Aliás, nascemos do agro, há 55 anos, mas hoje temos mais de 78 mil cooperados em praticamente todos os setores, incluindo pessoas físicas. Nossos projetos sociais, educacionais e ambientais impactam mais de 3 milhões de pessoas em toda a nossa área de atuação. Enfim, já mudamos a vida de milhares de pessoas e continuaremos nessa jornada, sempre atentos às novas tendências, demandas e aos desafios do mundo moderno”, afirma Rodrigues.

Motor econômico
Efetivamente, as cooperativas – especialmente as de crédito e do ramo agropecuário – têm se mostrado extremamente eficientes no fortalecimento da produção local e regional, criando uma rede sólida de apoio a empresários, empreendedores e produtores rurais, e impulsionando a competitividade deles no cenário global. As cooperativas agrícolas, por exemplo, têm permitido a pequenos produtores acessarem, juntos, mercados internacionais, promovendo a exportação de produtos como café, soja e milho.
Ainda segundo o Anuário do Cooperativismo Brasileiro, 2,5% de tudo o que foi vendido pelo Brasil ao exterior, em 2023, foi exportado por cooperativas. Ao mesmo tempo, 7,1% dos embarques do agronegócio também saíram de cooperativas. Números que refletem a importância estratégica desse modelo para o desenvolvimento econômico nacional, além de destacarem o papel das cooperativas na promoção de um mercado mais justo e equilibrado, no qual os lucros (chamados de Sobras no cooperativismo) são compartilhados de maneira equitativa entre todos.
Um exemplo que ilustra bem essa realidade é a atuação da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), que tem 97% do quadro social formado por mini e pequenos produtores, representantes da agricultura familiar. Das 4,5 milhões de sacas de café comercializadas pela cooperativa em 2023, cerca de 3,6 milhões (80%) foram destinadas à exportação para 50 países, entre eles Estados Unidos, Alemanha, Bélgica e China. “Nossa responsabilidade é grande em gerar serviços, informação e entregar aos nossos cooperados o acesso aos melhores mercados, fazendo com que sua atividade seja mais rentável”, afirma o presidente da Cooxupé, Carlos Augusto Rodrigues de Melo.
A Cooxupé é cooperada da Cocred desde 2020 e essa parceria demonstra, na prática, a importância da intercooperação – segundo o Anuário Brasileiro do Cooperativismo, 52% das cooperativas agropecuárias fizeram negócios com cooperativas de crédito em 2023. Isso demonstra que, mais do que um princípio desse movimento, intercooperar é uma forma inteligente e eficiente de fazer negócios, com foco muito mais na ação do que na competição.
“Para vencer os desafios diários da cooperativa, que tem como missão o desenvolvimento sustentável dos cooperados, procuramos estar alicerçados em uma gestão qualificada, com uma governança que respeita as boas práticas e com profissionais especializados para prestar os melhores serviços aos nossos cooperados”, diz Melo.

Evolução constante
Pós-doutor em economia aplicada e coordenador do curso de graduação em Cooperativismo na Universidade Federal de Viçosa (UFV), Pablo Murta Baião Albino afirma também que a intercooperação – sexto Princípio do Cooperativismo – fortalece o movimento e os próprios cooperados, uma vez que é uma estratégia de negócios onde mais pessoas cooperam e ganham juntas.
“O alcance de novos mercados com produtos que atendam às exigências internacionais representa um avanço importante para o cooperativismo agropecuário. A imagem do pequeno produtor, marginalizado, vem dando lugar a um exportador que, por meio da sua organização cooperativa, agrega valor aos produtos e chega até o mercado com elevado nível de competitividade”, detalha.
Coordenador do bacharelado que se destaca como pioneiro na formação cooperativista no Brasil e pesquisador do assunto há mais de 20 anos, Albino destaca que a expansão do cooperativismo deve continuar acelerada e reflete uma mudança na expectativa da própria sociedade e das novas gerações, que têm buscado por modelos de negócios mais colaborativos, inovadores e sustentáveis.
Até por isso, a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), entidade que representa o segmento no país, projeta alcançar a marca de 25 milhões de pessoas associadas a alguma cooperativa em 2025. O sistema também já anunciou a pretensão de movimentar R$ 1 trilhão nos próximos três anos.
“Os jovens vêm encontrando nas cooperativas um empreendimento capaz de dar respostas a questões sociais, ambientais e econômicas. Por princípio, as organizações cooperativas são empreendimentos democráticos e sustentáveis que exercem a economia colaborativa e o retorno dos resultados, além de serem importantes ativistas na construção de um mundo socialmente mais justo”, conclui.

Ano Internacional das Cooperativas
O movimento cooperativista está alcançando um marco que promete reforçar a sua importância na construção de um mundo mais justo, solidário e sustentável. Pela segunda vez na história, a Organização das Nações Unidas (ONU) dedica um ano inteiro ao cooperativismo. Sim, 2025 foi denominado “Ano Internacional das Cooperativas”, uma homenagem que coloca esse modelo socioeconômico no centro da agenda global.
Escolhida como identidade visual pela ONU, a imagem que simboliza o ano de 2025 é justamente uma composição de pessoas conectadas ao redor do mundo. O vermelho foi utilizado para representar a sociedade. O azul simboliza a economia. O verde caracteriza o meio ambiente.
Enfim, todos os componentes fundamentais para o exercício pleno do cooperativismo. O slogan não poderia ser outro: “Cooperativas constroem um mundo melhor”, destacando a relevância do modelo cooperativo como uma solução essencial para enfrentar desafios globais.
O lançamento oficial do “Ano Internacional das Cooperativas” ocorreu em novembro, em Nova Delhi (Índia), durante a Conferência Cooperativa Global da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), com a presença de diversos líderes globais.
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