Doces negócios: ramo de confeitarias cresce no Brasil

Doces negócios: ramo de confeitarias cresce no Brasil

A vida de Rita de Cássia Dias Luzenti não andava muito doce quando decidiu investir na confeitaria. Em tratamento contra a depressão, queria fazer algo que desse prazer, que fosse saboroso. Decidiu priorizar a satisfação pessoal, açucarada por boas memórias. Na infância, quando morava com os pais e os irmãos na fazenda de um tio-avô, não deixava os aniversários passarem em branco. “Fazia uma massinha de bolo na mão, porque nem tinha batedeira, e colocava uma cobertura, sem receita, sem nada.”

Cooperada da Cocred há três anos, a confeiteira conta que é autodidata. Nunca precisou fazer cursos. Foi por causa da preocupação em agradar os mais diversos paladares, somada a dedicação e capricho, que a Cássia Bolos conquistou clientes fiéis. Hoje, 14 anos depois de começar a empresa, na garagem de casa, em Jardinópolis, emprega oito funcionárias.

A história da Cássia Bolos ilustra a expansão do setor de confeitarias no Brasil. Segundo pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o consumo de doces no país cresceu 47% após 2020, ano em que começou a pandemia de Covid-19.

Das mais de 44,5 mil pessoas entrevistadas, 63% – com idades predominantes entre 18 e 29 anos – passaram a consumir doces duas ou mais vezes por semana. O tempo maior em casa, em função das restrições impostas pelo coronavírus, estimulou atividades em torno da mesa. Atualmente, o faturamento médio do setor é de R$ 12 bilhões ao ano.

“A gente não podia ter os grandes eventos, mas as famílias não deixaram de ter um bolinho em casa para os aniversariantes, uma sobremesa para um almoço. Então, o movimento durante a pandemia cresceu bastante”, conta Rita de Cássia.

Outro estudo, da ZupGo, plataforma digital de apoio a confeitarias, em parceria com a Associação Brasileira de Comércio de Artigos para Festas (Asbrafe), apontou que, entre 2019 e 2022, o crescimento anual das confeitarias no Brasil foi, em média, de 11% ao ano – no início dos anos 2010, o índice variava entre 2% e 5%. A pesquisa foi feita com 2.056 profissionais do ramo: 41% começaram as atividades no decorrer da pandemia.

E, assim como a expansão do setor, os negócios da Cássia Bolos também cresceram muito nos últimos anos. Da garagem para uma casa nos fundos da sorveteria da mãe, e depois para outro imóvel, maior. Especialista em bolos, de pote e para eventos como aniversários e casamentos, Rita de Cássia percebe que as pessoas querem, cada vez mais, praticidade.

“Antigamente, elas faziam muitas coisas em casa. Hoje, trabalham muito e, quando precisam, preferem comprar. Quando você oferece produtos de qualidade, com bom preço e atendimento, os clientes acabam virando amigos. Isso não tem dinheiro que pague. Significa que gostam dos meus bolos e querem que suas famílias também apreciem”.

Rita de Cássia Dias Luzenti

Consolidação

Para Danilo Lúcio Martins, sócio da Castelo dos Doces, em Marília, e cooperado da Cocred há seis anos, a entrada de novos empreendedores contribui para consolidar o setor de confeitarias no país. Como estratégia de sobrevivência, após perderem o emprego no auge da Covid-19, muitos passaram a fazer doces em casa e oferecê-los, inicialmente, a amigos e vizinhos.

Nesse aspecto, a pesquisa da ZupGo aponta que, como grande parte dos negócios é recente e pequena, há desafios a serem enfrentados para o aumento das vendas, como desenvolver ações de marketing, profissionalizar e capacitar a gestão e a produção, definir preços e, assim, conseguir sustentabilidade econômica.

Para que esse processo seja bem-sucedido, o acesso ao crédito é fundamental. Sem recursos, micro e pequenas empresas podem perder oportunidades e, com isso, negócios. Cooperativas financeiras, como a Cocred, oferecem diversas linhas de crédito, entre outros produtos e serviços, para garantir o fluxo de caixa e o capital de giro.

A Cocred nasceu do agronegócio, mas há quase 20 anos atende empreendedores de todos os segmentos econômicos. Esse suporte financeiro permite aos estabelecimentos comerciais, por exemplo, buscar maior visibilidade e colocar novidades no mercado, o que contribui para uma diversificação da oferta.

A própria Castelo dos Doces usufrui desses benefícios e, com apoio da Cocred, fortalece as várias divisões de produtos voltados às confeitarias, como ingredientes para sobremesas, doces prontos para festas, bares e restaurantes, embalagens, decoração, forminhas, pratos e talheres, entre outras.

Alimentação saudável

A diversificação se estendeu para a composição dos doces. Segundo Danilo, a indústria de produtos para confeitarias tem se atentado, também, para os consumidores que estão em busca de alimentos mais saudáveis.

“Muitos dos nossos fornecedores já têm linhas de produtos sem açúcar, com redução de gordura. Conforme as pessoas vão se acostumando, os preços vão caindo, ficando mais acessíveis, e, consequentemente, vai haver ainda mais crescimento”.

A Castelo dos Doces está há mais de 30 anos no mercado. Uma história que começou com a família de Emerson Pereira, o outro sócio da empresa. No início, o pai do Emerson buscava produtos, com um caminhão, na capital paulista. Levava para um depósito em Marília e repassava a perueiros que revendiam de porta em porta.

Com o tempo, o depósito ganhou um balcão e abriu as portas para o acesso ao público. Foi o primeiro passo para o ingresso no comércio varejista. Em 2002, com a entrada de Danilo na sociedade, a empresa deixou de trabalhar com distribuição para ficar só com a loja física. Sete anos depois, seria inaugurada a segunda unidade. “Houve uma revolução nesse mercado. A maioria do pessoal que era distribuidor tem hoje lojas de varejo, como a gente. E, ao mesmo tempo em que o setor foi se modificando, também foi crescendo”, explica Danilo.

Danilo Martins

Na internet

Ter uma loja de doces também era o desejo da família Matrangolo, de Sertãozinho. Em 2014, a ideia de “mexer com comida” começou a ganhar forma. Naquele ano, Marília, irmã das atuais proprietárias, Letícia e Isabella, encontrou uma rede de franquias de São José do Rio Preto. Não pensou duas vezes e investiu no negócio.

Conforme o empreendimento ficava mais conhecido, batia nas proprietárias a vontade de lançar produtos exclusivos. A solução foi deixar a franquia e apostar numa marca própria. Em 2016, surgiria a Donna do Bolo, especializada em bolos e sobremesas geladas. O empreendimento é cooperado da Cocred desde a inauguração. Um das receitas de sucesso foi a comunicação digital. O Instagram foi a maior aposta, com a publicação de fotos e vídeos de dar água na boca. “A procura cresceu bastante. A internet contribuiu muito. Tem muita gente falando na rede sobre como lucrar com doce, ensinando opções diferentes. Vejo que isso desperta o desejo do público”, diz Letícia.

Em 2021, a família viveu um drama: Marília faleceu aos 36 anos. Foi preciso, mais uma vez, transformar a dinâmica do empreendimento. Letícia, que, até então, não participava dos negócios, mas era graduada em Nutrição, decidiu juntar-se à irmã Isabella e às três funcionárias. Começava uma nova fase do negócio.

O que não mudou foi o ritmo de vendas, que continuou elevado. O maior incremento foi em pedidos por delivery, estreitando os laços com quem faz home office. Para os próximos anos, as irmãs projetam novas possibilidades, inclusive para esse público. “A gente quer expandir. Nossa vontade é ter um lugar para o pessoal poder consumir, comer um bolinho de manhã ou à tarde com um cafezinho, colocar o notebook para trabalhar”, conta Letícia.

Afinal, os sonhos não apenas adoçam a vida como podem ser um fermento para aqueles planos que, como os bolos, dão prazer de montar.

Na revista

Esta é uma das reportagens da Revista Cocred Mais, edição 43. Para conferir este e outros assuntos, clique aqui.

As irmãs Isabella (esquerda) e Letícia

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